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abdul cadre, sinais de chumbo

Sinais de Chumbo

GERALD FORD não quis fazer a passagem de ano cá deste lado; Saddam Hussein queria, mas não o deixaram: a sua alma gémea, lá da cadeira do mando onde se sentou para mal do mundo, exigiu o seu enforcamento em feriado oficial islâmico, e assim foi feito. Um dia santo, dia do sacrifício, altura em que se imolam animais com vista à remissão dos pecados; naquele dia, os criadores do ditador quiseram chamar-lhe animal e convidaram para o seu linchamento meia dúzia de seguidores do clérigo xiita  Moqtada al Sadr que, mesmo depois do último suspiro do condenado, prosseguiram nos impropérios contra ele, num degradante espectáculo bem demonstrativo a contrario senso daquilo que se quer fazer entender como construção da democracia ali na zona. Mais um tiro no pé, é o que parece, mas pode ser bom para quem merca.

Os ingénuos nunca conseguirão entender o empenho de Bush em ter os protegidos do Irão na iníqua cerimónia, mas poderão entender que os iranianos se possam sentir vingados pelo milhão de mortos sofridos na guerra iniciada pelo Iraque de Saddam, a pedido e com o alto patrocínio do governo dos Estados Unidos da América. Uma ajuda para a compreensão: quando não podemos vencer o inimigo, juntamo-nos a ele. Nestas coisas não há acaso, há estratégias de geometria variável: A Síria e o Irão, sem mudarem uma vírgula nos seus comportamentos, serão retirados do eixo do mal e juntar-se-ão à Líbia de Muammar Kadafi, todos democratizados e amancebados com o Tio Sam. No caso específico do Irão, correm já os oportunos relatórios das agências americanas da especialidade a dizer que o país tem necessidade de desenvolver projectos de energia nuclear pois, dentro de dez anos, as despesas de conversão da indústria petrolífera iraniana colocarão as suas finanças à beira de um ataque de nervos. Talvez o dólar substitua ali o rublo e pode bem ser que, no caso dos iranianos chegarem à arma atómica, se fale de bomba boa, porque boas são as cerca de QUATROCENTAS BOMBAS ATÓMICAS israelitas, a dúzia paquistanesa e outras tantas no arsenal da Índia, porque tudo é bom quando quem manda merca e quem merece lucra. E só merece quem manda.

Parece que Gerald Ford era uma pessoa decente e penso que não haverá dúvidas que o actual inquilino da Casa Branca não o é. Mas quis o destino que o primeiro discurso de louvor ao falecido saísse em palavras hipócritas da boca do júnior Bush, sintomaticamente usando uma gravata de um vermelho mais berrante que o das suas maçãs do rosto. A coisa não se fez assim para condizer: a gravata foi a demonstração que não era precisa da grosseria do indivíduo; o nariz e o rosto que vimos, como toda a gente percebe, não estavam assim por causa do frio… A sala de imprensa é aquecida.

Abdul Cadre

Jornal do Barreiro (Tudo isto é fado)

Vendas Novas, 1 de Janeiro de 2007

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02/01/2007
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