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francisco martins rodrigues — festa do 22° aniversário

Afinal o problema é deles ou é nosso?

 

Completámos 22 anos de publicação da Política Operária. Foram 22 anos de propaganda a favor do marxismo, do comunismo, da união dos explorados contra os exploradores, dos pobres contra os ricos.

Lançámos ou participámos nas mais variadas iniciativas, juntámos o estudo à acção prática de resistência, de denúncia e de luta.

Terá valido a pena?, perguntam-nos alguns. Os frutos são tão poucos que para muitos é um esforço desperdiçado. Alguns que nos acompanharam noutros tempos já não conseguem ver sentido nessa luta. Tudo mudou tanto que os anos em que sonhavam com a libertação dos povos e a mudança do mundo parecem ultrapassados para sempre.

Não vêem razão para lutar. Ou não querem olhar à vossa volta?

 

Escrevemos ali o lema “Sócrates rua”. Excessivo, dirão alguns. Não vimos outro que fosse mais adequado. Dois milhões de pobres, precários, desemprego, destruição do serviço de saúde, vida cada vez mais difícil. Flexisegurança, para ajudar. Dizem eles que é por causa do défice. E as jogadas dos bancos e os tráficos de influência, os subornos, a corrupção, a arrogância dos poderosos e as festas milionárias – aí não chega o défice! Tratam-nos como débeis mentais e nós deixamos. Dão esmolas de tostões – 76 cêntimos por dia deram agora ao salário mínimo – e depois fazem-nos discursos sobre a solidariedade social. O ministro Vieira da Silva lá fez o favor de dar às pensões um aumento extraordinário de 68 cêntimos por dia e não se levantou uma onda de protestos! E nós calamos!

E Sócrates continua à frente nas sondagens, porque dizem que é o melhor que se arranja! Afinal o problema é deles ou é nosso?

 

Depois de ter instalado o inferno no Iraque, na Palestina, no Afeganistão, no Paquistão, discute-se agora com naturalidade em Washington o uso de armas atómicas contra o Irão. Ou a crise financeira iminente que pode rebentar a qualquer momento da América.

Mas quem se atreve a erguer-se contra o poderio do império do mal, tão esmagador que se considera loucura desafiá-lo, criticá-lo sequer? Em vez disso põem-nos como débeis mentais a discutir os perigos do Mugabe, do Chávez, do Fidel – esses é que são o grande problema do mundo!… Vamos até onde?

 

Estamos a caminhar para o abismo. Mas achamos excessivo reclamar a demissão de Sócrates! Os crimes americanos e israelitas no Médio Oriente levam-nos aos tempos em que Hitler preparava o holocausto. Mas não queremos cair em radicalismos!

Será que não se pode fazer nada, ou deixamos que nos convençam de que não se pode fazer nada? O problema é deles? Ou o problema é nosso, que interiorizamos a impotência, o fatalismo, que nos resignamos ao caminho para o abismo?

 

Vem-me à memória um velho camarada, o Francisco Miguel de cujo nascimento passaram agora cem anos. O Chico sapateiro, franzino, modesto, que não foi além da 2ª classe. Quem o via não dava muito por ele, mas contribuiu mais que qualquer outro para levantar gente contra a ditadura de Salazar. O 25 de Abril foi em grande parte trabalho dele. Começou aos 17 anos a ser militante, correu as prisões todas, 21 anos encerrado, sete deles no Tarrafal, dessas prisões se evadiu quatro vezes, e por essa ousadia destemida foi venerado pela juventude daquela época.. Sempre a transmitir a resistência. E quando o puseram em segurança na União Soviética, na reforma, não aceitou, voltou para a clandestinidade, aos 60 anos, para organizar os atentados da ARA que apressaram a queda da ditadura.

O velho Chico Miguel usam-no agora no PCP como bandeira, mas ele não lhes pertence. Em Peniche, Cunhal, embaraçado com o seu “radicalismo” como ele dizia, comentava em tom de brincadeira: “Este Chico Miguel fala assim, mas é um coração de pomba”. Fingia que não percebia que o Chico Miguel podia fazer versos ingénuos mas tremia de ódio quando falava dos inimigos e transmitia esse ódio, essa paixão aos que o rodeavam.

Foi o único membro do PCP que me ensinou o abc do comunismo – o ódio e o desprezo pelos poderosos. A necessidade de os combater. É essa a nossa arma secreta. O mal é não a usarmos mais.

 

Um incidente infeliz obriga-nos ainda a uma palavra de esclarecimento: Não temos inimigos entre os que se batem contra o capitalismo e o imperialismo. Desejamos-lhes êxitos, venham donde vierem. Porque os seus êxitos são também os nossos êxitos. Com uma condição: Desde que ajudem a amotinar os oprimidos. Desde que não se ponham a inventar terceiras vias que, já sabemos, acabam sempre em desastre. Desde que não aproveitem a propaganda do mundo novo para se instalar num nicho confortável. Desde que desafiem o poder. Com esses estaremos sempre.



22/01/2008
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