alexandre o'neill, albertina
Albertina
ou O insecto-insulto ou O quotidiano recebido como mosca
O poeta está
só, completament só.
Do nariz vai tirando alguns minutos
De abstracção, alguns minutos
Do nariz para o chão
Ou colados sob o tampo da mesa
Onde o poeta é todo cotovelos
E espera um minuto que seja de beleza.
Mas o poeta
é aos novelos;
Mas o poeta já não tem a certeza
De segurar a musa, aquela
Que tantas vezes arrastou pelos cabelos...
A mosca Albertina,
que ele domesticava,
Vem agora ao papel, com um insecto-insulto,
Mas fingindo que o poeta a esperava...
Quase mulher
e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica, mosca-mulher, por ali...
— Albertina!, deixa-me
em paz, consente
Que eu falhe neste papel tão branco e insolente
Onde belo e ausente um verso eu sei que está!
— Albertina!, eu
quero um verso que não há!...
Conjugal, provocante, moreno
e azulado,
O insecto levanta, revoluteia, desce
E, em lugar do verso que não aparece,
No papel se demora com um insulto alado.
E o poeta
sai de chofre, por uns tempos desalmado...
Alexandre O'Neill
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