antero de quental, do inglês de edgar poe
IV Do inglês de Edgar Poe |
Não sei se era teu seio ilha encantada... Paraíso de canto, De perfume, d'amor e formosura... Se um templo à beira mar... um templo santo De luz e aroma cheio! Não sei... pois sabe alguém sua ventura? Mas dormia embalada no teu seio Minh'alma sossegada. Um suspiro... uma prece... Leva-os o vento pela noite escura! Sonho!... um sonho que esquece! Mas não se esquece o sonho da Ventura! Que fantasma nos brada — avante! avante! Esquecer! esquecer! — ? O coração não quer! Não quer... não pode... luta vacilante! Onde teve seu ninho e seu amor, Aí há-de ficar, sombrio, incerto Há-de ficar, pairar no céu deserto, Ave eterna de dor! — Nunca mais! nunca mais! Que diz a onda à praia? há um destino Triste, partido, em seu gemer divino, E um mistério infeliz naqueles ais! — Nunca mais! nunca mais! E o coração que diz às mortas flores Do seu jardim d'amores? Como a onda — jamais! Se eu pudesse sonhar? Ah! posso ainda Sonhar... se for contigo! Sempre! sempre a meu lado, imagem linda... A noite é longa... vem falar comigo! Estende os teus cabelos... O céu da tua Itália, não, não brilha Como brilham meus sonhos, vagos, belos, Se me falas à noite em sonhos, filha! Levaram-te! levou-te a onda dos mares! A asa da águia! o vento! Geme cativa — chora sem alento, Pomba d'amor, saudosa dos teus lares! Teu ninho agora é triste, glacial... Um leito conjugal! Antes a terra escura, pobre escrava, Aonde — sob a abóbada sombria — Tua alma os vôos livres estendia... E o coração amava! Antero de Quental Primaveras Românticas prefácio de Nuno Júdice colares editora |
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