alexandre o'neill, pelo alto alentejo
Pelo alto Alentejo / 1
Os homens desertaram destas terras.
Só um bacoco,a rufiar com a sombra,
só um bacoco,bolsado das tabernas,
em sete palmos,só,se reencontra.
Turistas fotografam cal e pedras:
o cubismo de casas e ruelas.
Nas soleiras sobraram umas velhas.
Escorre-lhes o preto pelas canelas.
Num caixote com rodas, meigo tolo,
— um que não veio, aos ésses, lá das Franças,
passar com os velhotes as vacanças —
preso a um fio de cuspo, vende jogo.
Eu e a Teresa procuramos queijo.
O melhor que se traz do Alentejo.
Pelo Alto Alentejo / 2
Meto butes á inteira planura.
Esboroa-se a terra.Lá pra trás,
sobraram o paleio e a literatura.
Aqui, na aparência, só a paz.
Mas que paz se desdobra a toda a anchura
do horizonte a que o olhar se faz?
Esta página em branco (ou sem leitura)
não terá uma chave por detrás?
Eu sei ler a cidade, mas, aqui,
sou um dedo parado em letra morta.
Uma guerra haverá, como o alibi
da paisagem que a outras me transporta.
Hei-de voltar pra ler e presumir,
quando Alentejo se puser a rir ...
Alexandre O'Neill
de:Entre a Cortina e a Vidraça (1972)
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