bras da costa - exaltado aviso ao fundador do Cão
exaltado aviso ao fundador do Cão
(dedicado à menina Zé)
caríssimo Vasco,
faz ladrar esse cão
contra essas luas mórbidas e luarentas
e outras miragens do deserto lusitano,
fá-lo ganir de raiva (impotente)
e morder mãos caritativas condescendentes,
faz do cão um tigre
ou pelo menos um gato bravo
que em dias de gloria é bem capaz de miar
como um rouxinol pela noite dentro,
reabilita-me o dialetico Camões e enterra-me o
tenebroso pessoa ! em vez de fado, fatum, peçonha, preguiça,
saudade e morte, canta-me a generosa e arrebatada
justiça de Fafe à falta de melhor,
chinca alegremente com a banda da Maria da fonte,
faz de Catarina o Homem com colhoes, ou mais propriamente, o Homem de cortiça
num pais tão desprovido
tão resignado tão conformista tão assim tão assado
tão bacalhau com batatas a murro,
(piedade pras batatas, hirra !)
escarra-me no bacoco zé povinho todo desprovido de espírito
e vangloria a audácia do nosso robin wood nacional, o autêntico zé de freixo de espada à cinta!
sei que gostas desenhar manguitos,
mas o manguito não chega, é curto, pachorrento e badalhoco,
estende uma mão firme aos 65 anos de resistência
palestiniana, com altos e baixos, mas sempre presente
como um sol universal inextinguivel;
e proclama à multidão dos leitores esta revelação de uma simplicidade calva :
não é porque na fase actual a luta de classes é favorável à burguesia
que o operariado deixou de existir, burdamerda!
faz mentir Buffett, o mentor milionário americano mais perspicaz do momento
que proclama aos quatro ventos :
a luta de classes existe, obviamente! mas nos, os capitalistas, estamos em vias de ganha-la!
uma porra, Warren! uma porra !
mete-me ao cimo da vernaculidade nacional, a musicalidade oral das massas,
esses frenéticos : foda-se! e caralhos! que recordam o bestial - foutre! dos heróis de 1789!
e anota ai em vermelho, Vasco, na agenda do secretariado:
na altura em que o Cão da à luz na campestre Fontanelas
morre nos arrabaldes de Paris como um cão asmático, Siné Hebdo, o nosso desejado
pelos vistos não faltavam croas, faltavam leitores... vai la compreender o paradoxo!
desaparece num 1° de maio
dia que desde há muito destronou o 1° de Novembro:
mudam-se os tempos, troca-se de calendário!
foutre!
Bras da Costa
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