antónio aleixo, ande cá
Ande cá
MOTE
— Primo, que medo, que horror!...
Que bicho é que tem na mão?
— Ó prima, eu sou caçador,
Este bicho é um furão!...
GLOSAS
... Ande cá, pegue-lhe aqui
Co'a sua mãozinha linda;
Talvez ele cace ainda
Um coelhinho para si
— Quando seus olhos eu vi,
Seu rosto mudou de cor,
E não perdeu o rubor
Ao tocar-lhe só c'um dedo...
— Então já não diz com medo:
«Primo, que medo, que horror!? ...»
— Mas o bicho há-de morder...
— Não, não morde em moças novas,
Isto é p'ra meter nas covas
Onde caça grossa houver;
Talvez me saiba dizer
Onde alguns coelhos estão...
Disfarce a má impressão,
Venha-me já ensinar,
E não torne a perguntar:
«Que bicho é que tem na mão?»
— Eu cá sei onde estão três
Metidos num só buraco...
— Este bicho é tão velhaco
Que os tira só de uma vez...
Ainda há bem pouco ele fez
Coisa pior, o estupor:
Tirou-os com tal furor
Que, prima, chorei com pena,
E, se por tal me condena...
Ó prima, eu sou caçador.
Não me devia condenar...
Se foi Deus quem criou tudo,
Criou um bicho cabeludo
Para noutro bicho entrar...
— Primo, vamos começar
Da melhor maneira então...
Ai, primo, é como um travão
Que chega à maior fundura...
Bem diz você que ele fura,
Este bicho é um furão!
António Aleixo
1899-1949
in "este livro que vos deixo...", Casa das Letras
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