antónio aleixo, fui uma noite pintar
Fui uma noite pintar
MOTE
Fui uma noite pintar
Com um caneco emprestado;
Eu pintei sem reparar,
Eu comecei cPintei e fiquei pintado.
GLOSAS
om jeitinho
A compor o ramalhete;
Primeiro foi com azeite
E depois foi com cuspinho.
No começo era estreitinho,
Custava o pincel a entrar...
Começa a dona a gritar:
«Não me parta a tigelinha»,
Mas que coisa engraçadinha,
Fui uma noite pintar...
Comecei devagarinho...
Quando fui ao outro mundo
Meti o pincel ao fundo
E parti o canequinho.
Até mesmo o pincelinho
Veio de lá todo pintado,
Eu já estava desmaiado,
Perdendo as cores do rosto;
Mas pintei com muito gosto
Com um caneco emprestado.
Vem a mãe toda zangada:
«Tem que pagar-me a vasilha...
No caneco da minha filha
Não pinta você mais nada...
... Lá isto, a moça deitada,
Sem poder-se levantar,
Com tanta tinta a pingar
No lugar da rachadela!...»
«Diga lá, que desculpe ela,
Eu pintei sem reparar!»...
P'ra que vejam que sou pintor
E meu pincel nunca deixo;
p'ra que saibam que o Aleixo
Não é somente cantor...
Também pinto qualquer flor
E faço qualquer bordado;
Mas aqui o ano passado,
Perdi, de pintar, o tino...
Fui pintar, fiz um menino,
Pintei e fiquei pintado.
António Aleixo
1899-1949
in "este livro que vos deixo...", Casa das Letras
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